segunda-feira, 24 de dezembro de 2012


Aflige-me estar assim.
E quando me encontro assim, o meu único desejo é encontrar-te. Encontrar-te rapidamente para que possa despejar em ti tudo o que me aflige.
Tu, meu real coração, aguardas-me sempre. Em cada esquina, em cada bar, em cada café, em cada monumento, em cada casa.
Sem hora marcada, vou à tua procura e encontro-te sempre. Disponível, sem ser preciso esfregar qualquer tipo de lâmpada ou de pedir um desejo a uma estrela cadente.
Às vezes não te encontro, mas quando pergunto por ti, toda a gente me reconhece, e me sabe dizer onde te posso encontrar.
Sabem bem que te procuro e que tu me aguardas.
Acerco-me de ti.
Quase sempre branco como a cal, nunca coras quando me vês, como se já fosse de esperar que aparecesse naquele local específico em tua busca.
Olho-te, e empolga-me o momento que se segue.
Tapo-te com um manto branco, suave, sedoso...
Desaperto o botão das calças e já me sinto molhada.
Desço o fecho éclair em direcção ao chão.
O meu joelho é a única ligação que temos agora.
O meu joelho, o manto branco e tu.
Este momento faz-me pairar no sentimento da ligação que temos. Neste hábito de anos que se podia tornar numa coisa monótona, num movimento perpétuo, num reflexo inconsciente. Coisa que não deixámos acontecer. Assim como um outro casal de amantizados trocam flores e surpresas, nós conseguimos surpreender-nos com a monotonia do dia-a-dia e encontrar romance entre quatro paredes carregadas de azulejos.
Sento-me a teu colo, sobre o manto branco e despejo em ti o que me aflige.
Recebes-me e despedes-te de mim com o eco de uma salva de palmas.
Até já, digo eu, que como humana que sou, vou tratar de carregar no meu ventre mais uma camada de aflições.

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